“Parece, pois, difícil explicar e ainda mais difícil compreender o fato singular de que o homem – este animal pretensiosamente superior, que tantas batalhas venceu contra as forças da natureza, que acabou por se proclamar seu mestre e senhor – não tenha até agora obtido uma vitória decisiva nesta luta por sua própria subsistência.”
Josué de Castro

Iniciamos 2023 com muitas pautas e objetivos para alcançar em nome do povo gaúcho e, um dos temas centrais é a fome que assola a realidade de grande parte da nossa população. Porém, nós sabemos que a fome não vem sozinha. Após uma grande crise de saúde, as consequências foram agravadas também no âmbito econômico e social e o resultado disso está no alto índice de pessoas desempregadas e famílias que lutam para sobreviver diariamente.

Nossa bandeira sempre foi lutar pela vida, proporcionando o desenvolvimento da agricultura, da educação e da saúde. Junto disso está o enfrentamento – tímido – de um problema permanente, ainda sem muita atenção, que é a fome, companheira dentro de tantos lares e, principalmente, fora deles.

Na Assembleia Legislativa do RS, buscamos dar visibilidade ao avanço da insegurança alimentar, promovendo um esforço conjunto ao redor do tema para amenizar a fome no nosso estado. Além do recolhimento de doações, no último ano foram transferidos R$ 20 milhões de seu próprio orçamento para o Fundo Estadual de Assistência Social para a aquisição de cestas básicas.

Outra ação importante é o Movimento Rio Grande Contra a Fome, uma ação coletiva que visa ampliar o enfrentamento à insegurança alimentar e nutricional no Rio Grande do Sul, no momento em que a fome e a pobreza extrema avançam em nosso país.

Assumir a missão de estar à frente da Secretaria de Assistência Social ligou um sinal de alerta diante das nossas ações. Sinto-me no dever de chamar a atenção da sociedade para a problemática da insuficiência de alimentos na mesa de muitas famílias e, assim, potencializar o trabalho que já é realizado pela Central de Doações do Estado, a qual é vinculada à Coordenadoria Estadual da Defesa Civil.

A questão da fome no mundo não é técnica, mas social. Eis a importância de destacar que esse movimento une a Assembleia Legislativa do RS, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Tribunal de Contas do Estado e diversas outras instituições e entidades gaúchas e está aberto a todas as demais interessadas em colaborar, afinal, não é que haja pouca produção: não faltam alimentos, mas o acesso a eles.

Não podemos nos conformar com o fato de que existem milhões de pessoas que vivem com medo de não ter o que comer, somadas às que, de fato, passam fome. Aliás, nos últimos anos, o Brasil bateu recordes na safra de grãos. Um grande paradoxo. Portanto, vislumbrar saídas do abismo social da fome só será possível com políticas públicas efetivas e perenes que considerem todas as suas causas — da pobreza à questão ambiental.